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O Pix, Nikolas Ferreira e a batalha das narrativas: como a comunicação virou o campo de disputa política no Brasil

Pix se torna símbolo de batalha política e de estratégias narrativas no Brasil.

17/01/2025 às 13h32
Por: Prof. Helle Borges
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Lula e Nikolas Ferreira — Foto: Reprodução/Arte - Rádio Cidade
Lula e Nikolas Ferreira — Foto: Reprodução/Arte - Rádio Cidade

A recente polêmica em torno do Pix revelou aspectos cruciais do atual cenário político brasileiro, principalmente no que diz respeito à comunicação e à capacidade de moldar narrativas públicas. Tudo começou quando o deputado federal Nikolas Ferreira publicou um vídeo que rapidamente ganhou as redes, alcançando milhões de visualizações e dominando o debate político e social. Nele, o parlamentar conseguiu unir elementos que provocaram indignação e mobilização de um público já inclinado à desconfiança em relação ao governo. Embora tenha afirmado que o Pix não seria diretamente taxado, a construção discursiva do deputado insinuava que as medidas recentes da Receita Federal abriam caminho para essa possibilidade no futuro. Essa insinuação, embora não respaldada por dados concretos, encontrou terreno fértil em uma sociedade marcada pela polarização e pela facilidade de amplificação de informações, sejam elas precisas ou não.

É preciso reconhecer que Nikolas Ferreira demonstrou habilidade estratégica ao usar um tema sensível como o Pix, que simboliza acessibilidade e inclusão financeira, para ampliar seu alcance político. O vídeo foi eficaz ao capturar a atenção das pessoas e transformar uma questão técnica em um debate emocional. Isso não é algo trivial; há um mérito inegável na capacidade de traduzir um tema complexo em algo que ressoe com o cotidiano do cidadão comum. Ele se posicionou como uma figura vigilante, alguém que estaria ali para proteger o contribuinte de eventuais abusos ou arbitrariedades do governo. No entanto, é fundamental apontar que a eficácia dessa estratégia esteve diretamente ligada à manipulação de informações e ao uso de insinuações que, se não podem ser tecnicamente classificadas como mentiras diretas, estão longe de representar uma narrativa honesta. Esse jogo com a verdade, embora poderoso no curto prazo, levanta questões éticas profundas sobre os limites do debate político.

Do outro lado, a resposta do governo Lula foi marcada por erros que não apenas reforçaram a narrativa criada por Nikolas, mas também evidenciaram uma fragilidade preocupante na comunicação institucional. Ao editar as normas que aumentariam a fiscalização de transações financeiras, a Receita Federal não se antecipou no esclarecimento à população sobre os objetivos dessas medidas. O vácuo informativo permitiu que a narrativa do deputado encontrasse um público desinformado e vulnerável a interpretações distorcidas. Quando o governo finalmente se manifestou, já era tarde. A explicação chegou como uma reação defensiva, alimentando ainda mais a percepção de que havia algo a esconder. O anúncio da revogação das medidas, embora necessário para conter o desgaste, foi recebido como uma vitória da oposição, consolidando o episódio como mais um exemplo da incapacidade do governo de articular suas ações com eficiência comunicativa.

O caso, no entanto, vai além da questão técnica. Ele escancara um problema maior: a dificuldade do governo em entender e operar no campo das narrativas políticas em um ambiente dominado pelas redes sociais. Enquanto Nikolas Ferreira, com todos os questionamentos que sua abordagem suscita, demonstra compreender as dinâmicas desse novo cenário, o governo parece preso a uma comunicação antiquada, que não dialoga com as preocupações e angústias do cidadão comum. Não basta ter a razão técnica ou jurídica; é preciso saber comunicar isso de forma ágil e acessível, especialmente em um contexto onde a desinformação circula com velocidade alarmante.

Ao final desse episódio, Nikolas sai com uma vitória moral significativa, ainda que construída sobre bases instáveis. Ele reforça sua imagem de opositor aguerrido, alguém que, mesmo em meio a controvérsias, conseguiu pautar o debate público e colocar o governo na defensiva. Já o governo Lula, ao revogar as medidas e anunciar que analisará “os próximos passos”, demonstra que reconhece a gravidade do erro, mas ainda precisa aprender a lidar com a pressão das redes e a narrativa da oposição. O desafio, daqui para frente, será investir em estratégias de comunicação que não apenas esclareçam suas ações, mas também antecipem possíveis focos de desinformação. Paralelamente, será necessário buscar uma parceria mais estreita com o Congresso, compartilhando os ônus de decisões polêmicas e construindo uma base de apoio mais coesa para evitar episódios semelhantes.

A disputa em torno do Pix não é apenas uma questão de técnica legislativa ou administrativa. Ela representa, em última instância, uma batalha por narrativas, por percepções, por corações e mentes. E, nesse campo, quem não sabe comunicar suas razões, por melhores que elas sejam, acaba perdendo para quem sabe explorar as emoções, mesmo que de maneira questionável. O episódio deixa lições importantes para todos os envolvidos, mas, sobretudo, para o governo, que precisa urgentemente entender que, em política, o silêncio ou a demora em reagir são tão prejudiciais quanto o erro inicial. Enquanto isso, figuras como Nikolas Ferreira continuarão a ocupar o espaço deixado vago, dominando a pauta e transformando questões técnicas em batalhas simbólicas que moldam o rumo do debate público no Brasil.

Confira ainda o comentário no JC1ª Edição

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