O discurso de que o Brasil precisa de mais representatividade no Congresso soa bonito — até que se descobre o que está por trás da proposta em debate: aumentar o número de deputados federais, hoje fixado em 513. Em vez de corrigir distorções demográficas e redistribuir as vagas com base no novo Censo, o plano dos parlamentares é simplesmente criar mais cadeiras. Não se trata de justiça, mas de conveniência política: ninguém perde, todos ganham — menos o contribuinte, que pagará a conta de mais um inchaço institucional.
A justificativa oficial é cumprir uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou que o Congresso atualize a distribuição das cadeiras conforme os dados do Censo de 2022. A Constituição estabelece que a representação deve seguir critérios populacionais. O problema? Se forem respeitados esses critérios sem aumentar o número de deputados, alguns estados perderiam espaço — e isso, no mundo político, é visto como um pecado imperdoável.
Estados que ganhariam cadeiras
Segundo projeções, a redistribuição proporcional das 513 cadeiras traria mudanças relevantes:
• Santa Catarina, um dos estados que mais cresceram, passaria de 16 para 20 deputados.
• O Pará, com crescimento populacional significativo, ganharia também 4 novas cadeiras (de 17 para 21).
• O Amazonas passaria de 8 para 10.
• Também teriam reforço: Ceará (+1), Goiás (+1), Mato Grosso (+1) e Minas Gerais (+1).
Estados que perderiam cadeiras
• Rio de Janeiro sofreria a maior redução: de 46 para 42 deputados, devido à queda populacional.
• O Rio Grande do Sul perderia 2 cadeiras, indo de 31 para 29.
• O mesmo ocorreria com Bahia (-2), Paraíba (-2) e Piauí (-2).
• Pernambuco e Alagoas perderiam uma vaga cada.
Diante disso, a solução encontrada pelos deputados não foi redistribuir, mas ampliar. A proposta em discussão prevê um novo número mínimo de deputados — 527 — apenas para acomodar os que ganhariam, sem que ninguém precise ceder.
E aí está o problema: mais cargos, mais assessores, mais verbas de gabinete e mais despesas públicas. Tudo isso em um país que já ostenta um dos parlamentos mais caros do mundo, onde cada parlamentar custa milhões por ano aos cofres públicos.
O argumento de que mais deputados trarão melhor representação é, no mínimo, ingênuo. A verdadeira crise não é de quantidade, é de qualidade política. São raros os brasileiros que conhecem o nome de seu deputado federal, mais raros ainda os que se sentem efetivamente representados. A ampliação da Câmara não resolve esse abismo — só o adorna com mais cadeiras.
Enquanto escolas enfrentam falta de estrutura, hospitais operam no limite e milhões vivem na informalidade, a cúpula do Congresso considera urgente garantir que ninguém perca influência política. O cidadão comum que espere. Mais uma vez.
A mensagem que o Congresso envia é clara: “o país pode não ter dinheiro para remédio, mas tem para gabinete”.
A decisão de inflar o número de deputados não é técnica nem moralmente justa — é um arranjo corporativo de autopreservação.
Sim, o STF determinou a redistribuição. Mas isso não exige aumentar o tamanho da máquina. Exige ter coragem de reconhecer que alguns estados perderam população — e, portanto, perderão cadeiras. Isso é a regra do jogo democrático. Ganhar onde se cresce, ceder onde se encolhe. Simples assim.
Mais deputados? Não, obrigado. O Brasil precisa de mais respeito ao cidadão — e menos manobras para proteger os interesses de quem já está no poder.
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