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O PL implode em silêncio: vaidades, traições e fuga de lideranças em SC

Deputados se afastam e alianças se desmancham nos bastidores do partido do governador.

02/05/2025 às 13h09
Por: Prof. Helle Borges
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Foto - Reprodução
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Não é preciso um terremoto para abalar um partido. Às vezes, bastam os pequenos tremores provocados pela vaidade, pela centralização e pela incapacidade de ouvir. Em Santa Catarina, o Partido Liberal, comandado com mão firme pelo governador Jorginho Mello, começa a apresentar rachaduras visíveis — e o barulho da debandada já ecoa nos bastidores.

Carlos Humberto Silva é o exemplo mais didático. Deputado fiel, chegou a ser líder do governo na Assembleia, mas foi descartado sem cerimônia no processo de Balneário Camboriú. Tentou disfarçar a mágoa, fez gestos de aproximação, mas a permanência de seu desafeto, Fabrício Oliveira, no comando do PL local foi o empurrão final. Agora, conversa de portas abertas com o PSD, ao lado da prefeita Juliana Pavan — que, curiosamente, será sua madrinha política numa futura campanha. Quando a lealdade não é correspondida, ela vira rebelião.

O caso da deputada Júlia Zanatta é mais ruidoso. Ícone do bolsonarismo, não esconde a insatisfação com Jorginho. Divergências antigas, frustrações acumuladas e, agora, uma afronta direta: o governador articulou o apoio do Republicanos à candidatura de Caroline de Toni ao Senado. Para Júlia, que também quer a vaga, foi o recado mais claro possível: “não tem espaço pra você aqui”. Difícil não pensar em desembarque.

E o que dizer de Fabrício Oliveira, mantido no comando municipal do partido, mas fora de qualquer cargo no governo? Trata-se de um poder vazio, simbólico. Um prêmio de consolação para quem já foi protagonista. No fundo, Fabrício está no PL, mas não está com o governo. Uma presença que serve mais para controlar do que para prestigiar.

André Moser, ex-prefeito de Indaial, completa esse roteiro de desprestígio. Fez o sucessor, mantém força política e se colocou como pré-candidato a deputado estadual. Mas, no governo de Jorginho, nunca houve espaço para ele. Desgosto crescente e chances reais de buscar novos ares.

No meio disso tudo, ainda temos o impasse da fusão entre PSDB e Podemos. Marcos Vieira, hábil articulador, quer o controle do novo partido. Do outro lado, Paulinha (Ana Paula da Silva), presidente do Podemos catarinense, já deixou claro que não aceita ser empurrada para fora. A disputa é interna, mas seus desdobramentos serão públicos — e barulhentos. Se Paulinha não ficar com o comando, pode sair. E sair levando aliados.

Por ora, ela tenta mostrar força: articula a entrada de Júnio Cardoso, deputado expulso do PRD, no Podemos. Curiosamente, com a bênção de Jorginho. O mesmo governador que enfrenta resistências internas no PL está ajudando a fortalecer um outro partido — com risco de ver esse apoio virar contra si.

O resumo é simples: o PL está inchado, dividido e com lideranças ressentidas. O jogo de poder segue, mas as peças já não se movem por obediência, e sim por sobrevivência. Jorginho Mello, que até aqui sonhou com hegemonia, enfrenta agora o desafio de conter as fissuras em seu partido e administrar egos feridos e alianças em disputa. Mas não se deve subestimar sua capacidade de articulação. Hábil estrategista, o governador ainda tem tempo e influência para reverter o desgaste, reorganizar o PL e reposicionar o jogo para chegar fortalecido em 2026.

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