Estado vai assumir Hospital Ruth Cardoso em Balneário Camboriú

O Governo de Santa Catarina vai assumir a gestão do Hospital e Maternidade Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú. O anúncio foi oficializado nesta quarta-feira, 11, com a assinatura de um Protocolo de Intenções entre o governador Jorginho Mello (PL), o secretário de Estado da Saúde, Diogo Demarchi, e a prefeita do município, Juliana Pavan (PSD). O ato aconteceu na Casa d’Agronômica, em Florianópolis, e marca o início de uma transição administrativa entre a prefeitura e o Estado, com expectativa de conclusão até setembro.

O objetivo da estadualização é melhorar e qualificar o atendimento oferecido pela unidade hospitalar, que atende não apenas moradores de Balneário Camboriú, mas também pacientes de outros 10 municípios da região da Amfri (Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí). A medida é uma resposta a uma demanda antiga e visa desafogar a sobrecarga que o hospital enfrenta há anos.

“A gente vai ajudar Balneário Camboriú e toda a região, estamos pensando na população que mais precisa, uma demanda que dura há muitos anos e nós vamos resolver”, declarou o governador Jorginho Mello durante o evento.

A partir da assinatura, a prefeitura e o Estado iniciam os trâmites legais necessários para formalizar a nova gestão. Segundo o secretário Diogo Demarchi, o processo envolverá ajustes na legislação municipal e estadual e, posteriormente, a publicação de um edital para definição do novo modelo de administração do hospital. “A partir de agora, vamos avançar na parte da legislação municipal e estadual, com o objetivo de, em breve, publicar um edital para uma nova gestão do hospital. A expectativa é que a transição ocorra até o mês de setembro, em uma ação conjunta entre o Estado e o município. É um pedido do governador Jorginho Mello, priorizar as pessoas com atendimento qualificado e assumindo a responsabilidade”, afirmou.

O Governo de Santa Catarina, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), já repassa mensalmente recursos ao Ruth Cardoso através do Programa de Valorização dos Hospitais, que auxilia nos custos com atendimentos de urgência, emergência, leitos de UTI e maternidade.

A prefeita Juliana Pavan celebrou a formalização do processo e destacou a importância da mudança para o futuro da saúde no município. “Este é um momento histórico para Balneário Camboriú, com o reconhecimento de que o Hospital Ruth Cardoso presta um serviço regional. A Saúde é prioridade para nós, e agora poderemos focar na atenção básica, que é a nossa atribuição. Desde que assumi a prefeitura, tenho trabalhado para isso. Agradeço ao governador Jorginho Mello por ter atendido ao nosso pedido”, disse.

A estadualização do Ruth Cardoso é discutida há mais de uma década. A unidade, idealizada pelo médico João Alfredo Moojen, foi concebida como hospital de média complexidade, com atendimento tanto pelo SUS quanto pela rede particular, utilizando a atenção básica como porta de entrada. No entanto, o modelo idealizado nunca foi plenamente executado. Desde a sua inauguração, no governo do ex-prefeito Edson Piriquito, o hospital acumula déficits financeiros e problemas estruturais.

Hoje, o Ruth Cardoso não possui funcionários concursados. O quadro é composto por servidores contratados e nomeações em cargos de confiança, o que pode facilitar o processo de transição e futura gestão estadual.

Além das dificuldades operacionais, o hospital tem sido alvo constante de críticas e está frequentemente nos noticiários locais por questões administrativas e problemas no atendimento. Recentemente, a prefeita chegou a até mesmo, levar seu gabinete para dentro do hospital, o que reforça a percepção de que a prefeitura está repassando ao Estado uma gestão desgastada e desafiadora.

Relembre os desafios do hospital

Após a morte de um recém-nascido em 25 de abril, durante um parto no Hospital Municipal Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) abriu três frentes de investigação que investigam falhas no atendimento médico, irregularidades na contratação de profissionais e possíveis omissões de servidores públicos.

A 6ª Promotoria de Justiça apura se houve erro ou falta de técnica no atendimento dispensado à gestante e ao bebê, incluindo a abertura de inquérito policial e o pedido de um parecer técnico junto ao Conselho Regional de Medicina. Já a 4ª Promotoria investiga possível conduta irregular por parte de servidores, exigindo à direção do hospital e à prefeitura esclarecimentos sobre os protocolos adotados antes e após o desfecho trágico.

Essas novas apurações se juntam a um procedimento já existente — instaurado pela 9ª Promotoria — que investiga supostas falhas na contratação de médicos terceirizados para o pronto-socorro adulto. Há denúncias de que profissionais sem a qualificação necessária vinham sendo escalados, o que poderia comprometer o atendimento, e de que documentos essenciais não foram publicados no Portal da Transparência, contrariando acordos firmados anteriormente.

Todas as investigações são conduzidas com sigilo parcial, abrangendo as esferas administrativa, civil, penal e ética, e demonstram a atenção do MPSC à segurança dos pacientes e à administração pública responsável.

Ao assumir a administração da unidade, o governador Jorginho Mello, que disputará a reeleição em 2026, passa a contar com um trunfo político importante para seu dicurso: poderá apresentar à população da região um hospital regional gerido pelo Estado, com capacidade de atender mais de 300 mil pessoas.

Regionalização do Santo Antônio

O Hospital Santo Antônio, inaugurado em setembro de 2024 no bairro Casa Branca, em Itapema, se consolidou como uma importante unidade de saúde para a região. Com investimento de R$ 27 milhões do Governo do Estado, o hospital oferece uma variedade de serviços especializados, incluindo cirurgias ortopédicas, vasculares, de cabeça e pescoço, otorrinolaringologia, urologia e cirurgia geral. Além disso, conta com atendimento clínico pediátrico e uma maternidade equipada com Centro de Parto Normal, que dispõe até de banheira para partos humanizados. Com mais de 100 leitos, o Santo Antônio também foi criado para ajudar a desafogar a demanda do Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú.

Porém, a intenção de transformar oficialmente o Santo Antônio em um polo regional de saúde enfrenta agora maiores obstáculos, principalmente após o anúncio da estadualização do Ruth Cardoso, hospital vizinho que atende uma vasta população. Mesmo assim, o Santo Antônio segue sendo uma referência para Itapema e municípios próximos, especialmente para Porto Belo e Bombinhas. Essas cidades dependem da unidade para procedimentos de baixa e média complexidade, consultas ambulatoriais e atendimentos emergenciais.

No contexto da saúde pública, ser “referenciado” significa que o hospital funciona como um apoio estruturado para municípios menores, assumindo parte da demanda que essas cidades não conseguem atender sozinhas, seja por falta de estrutura, profissionais ou recursos. Assim, mesmo sem o título formal de polo regional, o Santo Antônio continua cumprindo papel essencial na rede de saúde da região, servindo como ponto de apoio para diversas comunidades.

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