Eduardo Leite abandonou o PSDB. O ex-governador do Rio Grande do Sul, aquele que um dia foi a promessa de renovação tucana, virou as costas para um partido que já não é nem sombra do que foi. Com um discurso ensaiado sobre “nova política” e “centro democrático”, Leite arrumou as malas e partiu para o PSD de Gilberto Kassab, o que, no mundo político, é o equivalente a fugir de um naufrágio para embarcar em uma arca lotada de sobreviventes de todas as cores e bandeiras.
Não se engane: a saída de Leite do PSDB não é apenas um movimento pessoal. É o epitáfio de um partido que, um dia, governou o Brasil e fez história com Fernando Henrique Cardoso. O PSDB de hoje é uma sigla que acumula derrotas, que se une ao Podemos em um pacto de desespero e que perdeu seus principais quadros. A última eleição presidencial foi um vexame, e o partido que já foi o bastião da social-democracia agora se resume a uma fusão insossa e ao abandono de suas lideranças históricas.
Eduardo Leite, por sua vez, encarna o espírito de uma geração de políticos que veem em cada sigla apenas uma plataforma de lançamento. Depois de flertar com a Presidência em 2022, de renunciar ao governo do Rio Grande do Sul e depois voltar correndo para o Palácio Piratini, ele agora se lança ao PSD com uma nova ambição: ser candidato a Presidente da República em 2026. E por que não? Em um partido sem identidade clara, onde cabem desde Gilberto Kassab até Ratinho Júnior, há espaço para qualquer projeto pessoal.
Leite se apresenta como uma “terceira via”, um conceito que já virou piada no cenário político brasileiro. A “terceira via” é aquele sonho impossível, o unicórnio da política nacional, que só aparece em discursos de quem ainda não entendeu que o Brasil está polarizado e que o meio-termo é apenas uma linha tênue entre o nada e o lugar nenhum. No PSD, ele terá de disputar espaço com outros aspirantes, e a promessa de ser candidato a Presidente já vem acompanhada de uma ressalva: ele pode apoiar Tarcísio de Freitas, caso Kassab julgue mais conveniente.
O que restou do PSDB? Uma fusão burocrática, um monte de caciques regionais e um legado esfarelado. Aqueles que ainda carregam a legenda nas costas são como os últimos passageiros de um trem fantasma, que insiste em rodar sem destino. Eduardo Leite foi apenas o mais recente a pular do vagão em chamas, tentando salvar sua própria carreira.
Mas o que ele representa, afinal? Um político que já foi o rosto da renovação tucana e que agora é apenas mais um nome em uma sigla sem rosto. No PSD, Leite vai descobrir que ser “uma liderança moderada” é uma frase de efeito que não garante nada. E, ao tentar ser candidato a Presidente, ele vai enfrentar a mesma pergunta que o persegue desde sempre: quem é, afinal, Eduardo Leite?
Talvez ele mesmo ainda não saiba. Mas, em meio a tantas siglas e discursos reciclados, uma coisa é certa: o PSDB morreu. Eduardo Leite apenas saiu a tempo de não ser enterrado junto.
Comentário no JC1ª Edição:
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