A cidade de Porto Belo vai viver um dos momentos mais simbólicos do seu calendário cultural no próximo dia 9 de maio, sexta-feira, com a realização da Missa de Bênçãos que marca oficialmente a abertura da temporada da pesca da tainha. O evento será realizado às 9h30 no tradicional Rancho Henrique, localizado em frente à Pousada Vô Jaques, na Praia do Balneário Perequê.
Organizada pelo Governo Municipal, por meio da Fundação da Cultura e da Secretaria de Pesca e Aquicultura, a celebração será conduzida pela Paróquia Senhor Bom Jesus dos Aflitos e promete reunir pescadores artesanais, famílias, moradores e visitantes que reconhecem na pesca da tainha muito mais do que uma atividade econômica — mas sim um verdadeiro patrimônio cultural e de identidade do litoral catarinense.
A Missa é um gesto de fé e esperança, um pedido coletivo de proteção para os homens e mulheres do mar que, a partir deste mês, se dedicam ao trabalho incansável que move parte importante da economia de Porto Belo e de todo o estado. A tradição da pesca da tainha atravessa gerações e carrega consigo histórias de luta, companheirismo e respeito à natureza.
A prática do “arrastão”, uma das formas mais tradicionais de pesca da tainha, mobiliza dezenas de pescadores nas areias de Porto Belo. Logo ao nascer do sol, homens se posicionam atentos aos sinais vindos do mar, tentando identificar os cardumes que, nesta época do ano, se aproximam da costa. A partir daí, começa uma verdadeira operação de força e união: as redes são lançadas ao mar e, com esforço coletivo, puxadas até a areia, trazendo as tainhas que abastecem o comércio local e alimentam famílias de pescadores.
Oficialmente, a temporada para a pesca com emalhe anilhado — método regulamentado — começa no dia 1º de maio. Em Porto Belo, os conhecidos ranchos de pesca já estão organizados e prontos para receber os pescadores e suas embarcações, enquanto toda a cidade se prepara para vivenciar mais uma safra que é motivo de orgulho e expectativa.
A pesca da tainha é um dos marcos culturais e econômicos mais fortes de Santa Catarina. Só em 2024, foram registrados mais de 2 milhões de quilos da espécie capturados no estado, reforçando a importância dessa atividade que movimenta comunidades inteiras, fortalece a tradição e mantém vivo o legado de quem faz do mar seu sustento e sua paixão.
Polêmica
Mas infelizmente, nem tudo são flores.. A Portaria Interministerial MPA/MMA nº 26/2025, publicada pelo Governo Federal, estabelece um limite total de captura de 6.795 toneladas da espécie Mugil liza (nome científico da tainha) para o ano de 2025, distribuídas entre diferentes modalidades e regiões de pesca.
Para Santa Catarina, a cota destinada à pesca artesanal de arrasto de praia foi fixada em 1.100 toneladas, uma redução significativa em comparação às mais de 2 mil toneladas capturadas na safra de 2024. A medida gerou insatisfação entre os pescadores locais, que veem na atividade não apenas uma fonte de sustento, mas também um patrimônio cultural.
O governador Jorginho Mello acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para contestar a portaria, alegando que a restrição é discriminatória e prejudica os pescadores artesanais do estado. A Procuradoria-Geral do Estado protocolou uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) contra a medida, buscando sua suspensão.
Paralelamente, o senador Esperidião Amin criticou a portaria, classificando-a como uma "distinção absurda contra a própria cultura catarinense", destacando que a pesca artesanal da tainha é uma prática sustentável e parte do patrimônio histórico do estado.
Enquanto o impasse jurídico se desenrola, os pescadores catarinenses enfrentam a incerteza sobre o futuro da atividade. A temporada de pesca, que tradicionalmente mobiliza comunidades inteiras e impulsiona a economia local, agora está sob ameaça, colocando em risco não apenas o sustento de muitas famílias, mas também a preservação de uma tradição secular.
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