Uma reportagem publicada nesta terça-feira (1º) pelo jornal Folha de São Paulo ganhou destaque nacional ao revelar detalhes sobre áudios e trocas de mensagens que sugerem que Leonel Pavan (PSD), candidato à prefeitura de Camboriú, teria prometido a empresários futuros contratos com as prefeituras de Camboriú e Balneário Camboriú em troca de caixa dois.
O esquema de oferta de contratos nas prefeituras de Balneário e Camboriú teria se desenrolado desde o ano passado, envolvendo contratos nas áreas de saúde, coleta de lixo, uniformes, obras, compras, tecnologia da informação e parcerias público-privadas em áreas públicas. A filha de Leonel, Juliana Pavan (PSD), também é candidata à prefeitura de Balneário Camboriú, e ambos lideram as pesquisas eleitorais em suas respectivas cidades. Em nota, Leonel Pavan classificou as denúncias como "vazias", enquanto Juliana se referiu a elas como "acusações infundadas feitas ao pai".
De acordo com a reportagem, as negociações resultaram em pelo menos R$ 1 milhão transferidos via PIX, além de depósitos bancários regulares. O suposto operador do esquema seria o lobista Glauco Piai, atualmente filiado ao PT de Itajaí.
Os documentos e mensagens, aos quais o jornal teve acesso, indicam que empresários interessados nas promessas de contrato repassariam valores para uma empresa de Piai, que posteriormente transferia o dinheiro para contas de Pavan ou outras empresas indicadas por ele.
Conversas
Arquivos de mídia revelam comprovantes de operações em PIX ou depósitos, totalizando R$ 1 milhão e 100 mil da Traccia Construtora e Incorporadora, empresa de Glauco, para familiares e a conta pessoal de Leonel Pavan.
Em uma das conversas, uma pessoa que seria sócia de Glauco lista a divisão de pastas com empresários que realizam as transferências de dinheiro: “Paulinho, gestão de creches; Felipe, obras pequenas; Thiago, parcerias/saúde; Romero, facilities; Fred, cesta básica; Emerson, uniformes; 'Amiga', seguros; Rildo, medicamentos; Miro, merenda do 5º ao 9º ano”.
Glauco sugere a divisão de responsabilidades durante o período de transição do suposto futuro governo: “Preciso saber o que já foi para Juliana, porque a doutora Grazi está vindo para cá para deixar tudo pronto para a transição de governo,” menciona em uma das conversas.
Além disso, Glauco envia comprovantes de depósitos a Leonel Pavan, referindo-se a ele como chefe. As transferências ocorreram tanto na conta pessoal de Pavan quanto na da Leone Construtora, pertencente à família Pavan. Comprovantes de depósitos também foram enviados a outros membros da família, incluindo Edwino Reinaldo Von Borstel Neto, marido de Juliana, e Leonel Pavan Junior, filho caçula de Pavan.
Por exemplo, em agosto de 2024, foi realizado um depósito de R$ 50.002 para a Leone Construtora. Em maio de 2024, Glauco transferiu R$ 138 mil em um único dia, complementando com R$ 12 mil no dia seguinte, totalizando R$ 150 mil em menos de 24 horas.
Posicionamentos
Em resposta às alegações, o candidato Leonel Pavan afirmou que lamenta a publicação de "denúncias vazias às vésperas da eleição" e ressaltou que "os valores recebidos, muito antes do período eleitoral, referem-se a uma transação imobiliária privada, formalizada dentro da legalidade e com o devido recolhimento de impostos, conforme contrato celebrado em 2024".
Juliana Pavan, por sua vez, expressou que "lamenta as acusações infundadas feitas ao pai". Ela também reiterou sua disposição em colaborar com qualquer esclarecimento necessário, destacando que sua campanha é conduzida dentro dos parâmetros legais e éticos
O lobista Glauco Piai, em declarações ao jornal, alegou que as informações resultaram de um roubo de celular e que não deveriam ser analisadas.
Piai detido - Como tudo começou
A saga envolvendo Glauco Piai ganhou atenção quando ele foi preso durante uma operação da Guarda Municipal de Balneário Camboriú na semana passada, no dia 23, após ser encontrado com R$ 100 mil em dinheiro em sua Land Rover, além de portar uma CNH vencida. Na ocasião, Piai afirmou inicialmente que o montante era de um "grupo de São Paulo", mas suas declarações contraditórias levantaram suspeitas, levando à sua condução para esclarecimentos. Em uma segunda versão, declarou ser "dono de construtora" e que o dinheiro era para pagamento de funcionários. O veículo, o dinheiro e um celular foram apreendidos para perícia pela Polícia Civil. Após a prisão, começaram a vazar conversas privadas que o empresário mantinha com sócios, empresários e políticos da região.
Pedido de cassação de Juliana Pavan
Na tarde desta terça-feira (1º), a coligação 'Pra BC Seguir Avançando', de Balneário Camboriú, convocou uma coletiva de imprensa para se manifestar sobre as denúncias. Os jornalistas foram recebidos pelo candidato a prefeito Peeter Grando, seu vice David La Barrica, e o atual prefeito Fabrício Oliveira, principal cabo eleitoral e apoiador da chapa.
Peeter e David confirmaram que estão levando à Justiça uma ação pedindo a cassação imediata do registro da candidatura de Juliana Pavan (PSD), fundamentada nas denúncias veiculadas pela Folha de São Paulo.
Porém, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC) informou que ainda não recebeu representação sobre o assunto. O promotor Alan Boettger, do Ministério Público, também ainda não recebeu a denúncia oficialmente.
Na coletiva, Peeter Grando informou que a coligação irá ingressar na Justiça eleitoral com um instrumento jurídico chamado Aije, que visa investigar abuso de poder econômico e político que poderá resultar na cassação do registro da candidatura de Juliana Pavan. “Ela (Aije) reflete situações de extrema gravidade que atingem a normalidade do pleito pelo desequilíbrio econômico via caixa 2”, explicou Peeter.
Entre os pontos que serão abordados estão os indícios de doações ilegais de pessoas jurídicas, captação ilícita de recursos e fraudes na prestação de contas.
“Pedimos explicações à nossa adversária sobre as denúncias apresentadas na matéria da Folha de São Paulo. Não podemos permitir que nossa cidade se transforme em um balcão de negócios, nas mãos de pessoas erradas. Juliana, até agora, apenas se escondeu. Ela precisa esclarecer à população se conhece ou não o lobista que foi preso com dinheiro vivo e que falava em seu nome, vendendo contratos da prefeitura de BC. É imprescindível que ela diga quem é essa pessoa e se recebeu ou fez algum negócio com Glauco Piai”, afirmou Peeter, que também é jornalista.
Fabrício Oliveira lamentou a situação, dizendo que “tudo isso revela uma rota de recursos com promessas de entrega de serviços futuros. Isso é um escárnio para a nossa cidade, num processo que deveria ser sério. Hoje, estamos diante de um cenário policial”.
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