Na manhã desta sexta-feira (16), Balneário Camboriú foi palco de uma manifestação comovente em frente ao Hospital Ruth Cardoso, onde moradores, familiares e amigos se reuniram em um ato de protesto e luto pela morte de duas crianças, ocorridas no último fim de semana num espaço menor de 24 horas entre elas. O protesto, que atraiu a atenção da comunidade local, reflete a indignação e a dor das famílias afetadas.
O evento atraiu não apenas aqueles diretamente afetados pela tragédia, mas também outras pessoas que afirmam ter passado por experiências semelhantes no hospital, alegando negligência no atendimento médico. A manifestação foi marcada por forte comoção e indignação, com os participantes buscando chamar a atenção para possíveis falhas nos cuidados prestados pela instituição.
Entre os presentes estava Manuela Martins, mãe de uma das crianças falecidas, que registrou um boletim de ocorrência na segunda-feira, 12 de agosto, acusando o hospital de negligência. A Polícia Científica de Santa Catarina já iniciou as investigações, e o exame necroscópico será crucial para determinar as causas das mortes e a possível responsabilidade médica.
Em resposta às acusações, a prefeitura de Balneário Camboriú emitiu uma nota informando que ordenou o afastamento temporário dos pediatras envolvidos nos atendimentos até a conclusão das investigações. A empresa responsável pelo quadro médico do setor de pediatria também foi notificada para garantir que todas as medidas necessárias sejam tomadas.
Além disso, a Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCami) de Balneário Camboriú e o Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina abriram inquéritos para investigar o caso, que segue sendo acompanhado com grande atenção pela comunidade.
As famílias dos bebês não se conheciam e não tiveram nenhum tipo de contato. Uma das crianças, um menino de 1 ano e 9 meses, deu entrada no hospital na quinta-feira (8) com febre alta e dificuldades respiratórias, segundo a mãe, Manuela Francisco Martins.
Ela ainda buscou atendimento na Unidade de Pronto Atendimento e retornou ao hospital no sábado (10). A criança morreu no domingo (11).
"Eu exigi que eles fizessem dois raios-x porque a barriguinha dele afundava muito. E o raio-x deu que o pulmão dele estava limpo e alegaram que eu ia para casa fazer o tratamento de uma bronquiolite. E simplesmente me mandaram embora", contou a mãe.
"Eu voltei no sábado pior ainda, internaram ele. Eles esperaram chegar no último minuto para internar, examinar e isso é completamente errado. Eu espero que nenhuma outra mãe passe por isso que a gente está passando", lamentou.
Já a mãe da outra criança, um menino de 6 meses, levou o bebê ao hospital no sábado com febre alta, mas ele foi liberado. Ele piorou e foi levado de novo à unidade e na madruga de domingo (12), quando foi internado.
Segundo Aline Lubke, o pequeno só recebeu suporte para respirar depois de muita insistência dela. Ele morreu na manhã de segunda.
A diretora do hospital, Syntia Sorgato, falou sobre o caso.
"Essa primeira criança ficou muito grave e os médicos já solicitaram vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Essa vaga de UTI estava sendo tramitada e sendo confirmada. O transporte foi solicitado, mas a evolução do caso foi abrupta e ela chegou a óbito antes de ter condições de ser transferida para um leito de UTI".
"Os dois casos são considerados graves e a suspeita é sim de infecções respiratórias agudas graves, mas elas vão ser confirmadas e investigadas na comissão de óbitos do hospital, que já foram encaminhados os dois casos e também já serão encaminhadas para a Comissão da Região da Foz do Rio Itajaí, onde participam técnicos de toda região da Foz", completou.
Ainda de acordo com a diretora, os casos foram enviados para a análise da Comissão de Óbitos Materno Infantil do Hospital Municipal Ruth Cardoso.
A prefeitura se manifestou também por uma nota mais longa. Confira a íntegra abaixo.
A Prefeitura de Balneário Camboriú, por meio da Secretaria de Saúde, lamenta os dois óbitos ocorridos nos últimos dias e informa que o Hospital Municipal Ruth Cardoso prestou toda a assistência, com todos os atendimentos médicos e exames necessários para os dois casos.
Os atendimentos ocorreram de forma rápida e ágil de acordo com a gravidade dos casos, e foram prestados por médicos pediatras especialistas, devidamente registrados no Registro de Qualificação de Especialidades do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina.
No primeiro caso o paciente deu entrada na quinta-feira (08) a noite, onde realizou exames e não apresentou alterações. No sábado (10), no início da noite, o paciente deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento do Bairro das Nações em estado grave e foi imediatamente encaminhado ao Hospital Municipal Ruth Cardoso, conduzido a sala de emergência, prestada toda a assistência médica e solicitada vaga de UTI Pediátrica. Durante todo o atendimento, os médicos responsáveis estiveram em contato com os pais atualizando periodicamente sobre o quadro e na madrugada fizeram uma conferência com toda a família explicando a gravidade. A criança foi a óbito no início da manhã.
O segundo paciente foi atendido no Hospital Municipal Ruth Cardoso no domingo (11), por volta das 3h, com queixa de diarreia e exame clínico normal, sem outras alterações, teve alta com orientação aos pais de sinais de alerta. Por volta das 23h, acompanhado dos pais, retornou ao hospital com desconforto respiratório grave, foi imediatamente conduzido à emergência, prestada toda a assistência médica e internado. Infelizmente, o paciente veio a óbito nesta segunda (12) pela manhã.
O HMRC esclarece que não se trata de infecção hospitalar. Os critérios para definição são normatizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e avaliados por médicos infectologistas, sendo um dos critérios ter no mínimo 24 horas de internação, o que não se enquadra nos casos.
O HMRC está à disposição para conversar diretamente com as famílias para informar e esclarecer a evolução dos casos.
O Município lamenta profundamente as perdas e segue prestando a assistência às famílias.
O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) informa que tomou conhecimento dos fatos nesta segunda-feira (12), e está adotando as medidas cabíveis na apuração do caso.
A Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 2.306/2022, exige que a investigação pelos CRMs, de qualquer caso envolvendo a atuação médica, ocorra de forma sigilosa. Isso impede que o CRM-SC faça manifestações públicas sobre processos em tramitação envolvendo médicos.
CONFIRA NOSSA PROGRAMAÇÃO AO VIVO
Mín. 15° Máx. 19°