"Quando a ponte estourou, fui até a empresa com o vídeo e falei que não teria lógica continuar trabalhando sem resolver o problema. A gente precisa se reconectar. A gente precisa se reconstruir."
A fala é do empresário Roberto Lucchese, diretor da construtora Lyall, do município gaúcho de Lajeado (a 120 km de Porto Alegre), localizado no Vale do Taquari.
Espaços da cidade foram devastados pela enchente há um mês, incluindo parte de uma ponte de ferro. É essa estrutura que Lucchese planejou entregar até o este último final de semana — a obra foi concluída no 15º dia de obras.
Neste domingo (09) então, foi realizada a celebração de passagem do primeiro veículo sobre a nova Ponte de Ferro, entre Arroio do Meio e Lajeado. A cerimônia de reabertura da agora chamada "Ponte da Reconstrução" foi marcada por emoção e simbolismo. A sirene da ambulância (primeiro veículo transitando), acompanhada por aplausos e lágrimas dos presentes, ecoou como um sinal de alívio e um lembrete forte do apoio comunitário.O idealizador da reconstrução Roberto Lucchese destacou que foram muitos os desafios superados em uma obra multitarefa, que envolveu madeira, pedra, ferro: “Uma série de impossíveis foram realizados”, destacou o empresário.
Segundo Lucchese, o primeiro obstáculo foi colocar um guincho no meio do Rio Forqueta, considerando a destruição do entorno e das margens. Além desse desafios, conseguiram finalizar a estrutura de ferro em oito dias e realizar o içamento da ponte antes do prazo projetado, que era até o Dia dos Namorados, 12 de junho. O trânsito deve fluir a partir da tarde desta segunda-feira (10).
A ponte é uma ligação secundária entre Lajeado e o município vizinho de Arroio do Meio. A principal estrutura que conectava as duas cidades, pela RS-130, também caiu com a força das águas. Nesse local, o Exército havia instalado uma passadeira provisória, que só recebia pedestres.
Lucchese afirmou que sentiu uma indignação com a situação que as pessoas enfrentavam ao atravessar a passarela entre Arroio do Meio e Lajeado. Em razão disso, decidiu que não olhariam para o dinheiro, mas para a necessidade da comunidade: “Não é momento de fazer vaquinha, é momento de fazer uma ponte”, pontuou.
Segundo Lucchese, a reconstrução da ponte de ferro é uma tentativa de amenizar o caos logístico que se instalou na região. A nova estrutura já pode receber carros e motos em um sentido de cada vez, a exemplo do que já ocorria antes da enchente. Caminhões não podem trafegar pelo local.
"Estamos fazendo isso para que o paciente [Vale do Taquari] não morra", afirma o empresário.
O empresário afirma que, ao perceber o caos logístico criado pela tragédia ambiental na região, procurou as prefeituras de Lajeado e Arroio do Meio para apresentar o plano de reconstrução. Com o aval do poder público, a obra teve início, conta ele.
Vídeo - Divulgação
De acordo com Lucchese, a ponte tem em torno de 51 metros de extensão, e o custo total deve ficar na faixa de R$ 2 milhões a R$ 2,2 milhões.
Dessa quantia, de R$ 1,2 milhão a R$ 1,4 milhão sairão do caixa da Lyall, diz o empresário. O restante da despesa, que inclui doação de material, será dividido entre empresas parceiras e o poder público –o diretor cita a Prefeitura de Lajeado.
"Ninguém tem na faixa de R$ 1,5 milhão sobrando. A grande questão é que a gente precisa reconectar o vale. Não tinha como seguir com o nosso trabalho e não dar atenção para o vale, que faz a empresa acontecer", afirma.
Sem as duas pontes, há casos de moradores que não conseguem fazer a travessia por meio da passarela flutuante do Exército, ele diz. E afirma que essa situação prejudica, por exemplo, pessoas em tratamento contra o câncer.
"No Vale do Taquari, a gente tinha mais ou menos 300 mil pessoas desconectadas. Lajeado, a capital do vale, tem um grande centro oncológico."
A antiga ponte de ferro havia sido inaugurada em julho de 1939, quase 85 anos atrás, de acordo com informações disponíveis no site da Prefeitura de Arroio do Meio. A expectativa diária é de que 5.000 a 7.000 veículos utilizem a estrutura reformulada, segundo Lucchese.
A camiseta feita para o projeto, que virou o uniforme de trabalho nos últimos dias, dizia: “Coragem pra fazer o que tem que ser feito”. A conclusão que Lucchese tira de toda essa situação é de que o povo precisa ter cada vez mais coragem pra enfrentar os desafios que surgem na vida.
A Ponte de Ferro, agora reerguida, é mais do que uma rota de tráfego restaurada; é um monumento à tenacidade de uma região que, mesmo enfrentando a possibilidade de novas enchentes e desafios contínuos, permanece inabalável.
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